sábado, 7 de novembro de 2009

Pro dia nascer feliz

João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).
Pro dia nascer feliz
A educação brasileira em fotogramas

Em 1960 o Brasil tinha, aproximadamente, 14 milhões de crianças e adolescentes em idade escolar. Deste total, apenas 50% conseguia ter acesso à educação... A publicidade oficial da época, ciente do fato, criou propaganda através da qual falava da necessidade deste contingente de excluídos da escola chegar às salas de aula e como isto melhoraria a vida do país... Acreditava-se piamente que o caminho mais certo para o desenvolvimento político, social e econômico passava pelas vias escolares... "Pro Dia Nascer Feliz", documentário de João Jardim, produzido entre os anos de 2005 e 2006, procura dar uma visão do que ocorreu mais de 40 anos depois, quando os dados oficiais nos dizem que 97% das crianças e adolescentes em idade escolar estão tendo a oportunidade de estudar. Para tanto, o diretor e sua equipe de produção se propuseram a acompanhar a realidade de seis unidades educacionais, localizadas em diferentes estados brasileiros, todas equiparadas apenas pelo fato de serem escolas públicas. Este "retrato" da educação brasileira, com apenas três anos, constitui documento de valor inestimável para entendermos um pouco da realidade das escolas do país, de suas carências materiais às dificuldades de trabalho dos professores, da impossibilidade de chegar às escolas por falta de transporte à arcaica e ideologizada metodologia de ensino. Ao assistirmos ao filme, o que salta aos olhos é, a princípio, a carência material e infraestrutura precária das escolas (exceto no caso da escola de São Paulo). Em quase 2 mil unidades educacionais do país (num universo de 210 mil escolas), conforme dados do MEC/INEP (2004), não há água encanada. Se não bastasse este dado alarmante, há ainda 13,7 mil escolas em que não há banheiros... Paredes sujas, carteiras jogadas no pátio ou nos cantos e ausência de qualquer tipo de instalação de apoio, suporte ou incentivo ao estudo - como quadras, laboratórios e salas de computação, além de grades por todos os lados dão uma ideia do descalabro da educação. O que era para ser um ambiente acolhedor, motivador, que criasse uma experiência instigante, interessante e desafiadora para os alunos em seu processo de construção do conhecimento torna-se, então, um espaço que, ao contrário, rechaça, dificulta e acaba, na realidade, promovendo a evasão, o desinteresse, a vontade de não estudar... Há também o descompromisso dos pais e da comunidade... As escolas não lhes apetecem, não são vistas por eles como parte primordial do núcleo onde residem... Os filhos devem frequentá-la, pois há um compromisso social assumido e, ainda, persiste a ideia de que isto pode lhes ser útil no futuro. A ilusão de que tudo mudará a partir da educação não existe mais, pelo menos não da forma como foi trabalhada há 40 anos pelos governos da época. Como a comunidade está ausente, abre-se espaço para que outras forças se façam presente. É o que se vê no Rio de Janeiro (e em regiões periféricas de cidades de médio e grande porte), onde quem dá as cartas é, muitas vezes, o traficante local. A força destes marginais oprime os professores e dá demonstrações aos adolescentes e jovens de que o estudo, por si só, não lhes garante nada, enquanto a venda de drogas e a manipulação de armas de fogo podem lhes conferir poder, dinheiro, respeito, temor por parte de seus pares... O documentário igualmente prima por nos colocar em contato com a fala dos alunos e dos professores. Dos estudantes percebemos a violência e a rudeza que surgem da necessidade de sobreviver em ambiente no qual não há espaço para a candura, a inocência ou a bondade e o respeito pelo próximo. Quanto mais urbana é a escola, maior é a competição feroz e o medo que acaba por se estabelecer - a exceção é a escola paulistana, na qual os pais de classe média, com melhor situação social, dão a seus filhos melhores condições e estímulo quanto ao estudo (o que é corroborado pelo mercado de trabalho competitivo e seletivo que encontrarão depois de formados). A fala dos estudantes, quanto mais pobre e sem perspectivas é a escola, demonstra o quanto sua educação é fraca, desprovida de maiores elementos culturais, pautada apenas em bases primárias. Há exceções, é claro, como a garota que se encantou desde cedo com os livros de Vinícius de Morais, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade... O que, de certo modo, demonstra o quanto a leitura faz diferença na vida de uma pessoa... Quanto aos professores, nos rincões do país, faltam-lhes melhor formação e condições de trabalho. Seus salários são baixos, seus equipamentos de trabalho são escassos, sua motivação é igualmente rara e, se não fosse a necessidade de se manter, é possível que muitos viessem a desistir. Mas, como dizia Euclides da Cunha "o sertanejo é um forte", o que vale tanto para estes professores quanto para seus alunos. Nas áreas urbanas, por sua vez, novamente excetuando a escola de classe média paulistana, o que se percebe muito forte é o descontentamento, a falta de perspectivas, as condições pouco apropriadas para o trabalho e a perda de engajamento e amor à profissão... Muitos professores faltam de forma abusiva (contabiliza-se, segundo dados da rede estadual paulista para o Ensino Médio, até 30 faltas por docente a cada ano), tantos outros daqueles que vão cumprem o básico (batem o cartão, literalmente) e há ainda, felizmente, os heróis da resistência que continuam a acreditar na educação e trabalham com afinco. Não deixaram de ser críticos, demonstram algum ceticismo, mas não bateram em retirada e tampouco esmoreceram... De qualquer modo, "Pro Dia Nascer Feliz" deveria ser obra obrigatória nas escolas, comunidades e, também, pré-requisito para todos os políticos brasileiros que estão exercendo mandato ou que futuramente estarão... Quem sabe assim eles não criam vergonha na cara e realmente se mexam para que as escolas deste país não apenas tenham suas salas cheias de alunos, mas que também possam oferecer educação de qualidade! Ficha Técnica Pro dia nascer feliz País/Ano de produção: Brasil, 2006 Duração/Gênero: 88 min., Documentário Direção de João Jardim Roteiro de João Jardim Links http://www.adorocinema.com/filmes/pro-dia-nascer-feliz http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=12482 http://www.cinerevista.com.br/nacional/Prodianascerfeliz.htm

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cinema na Educação

Cinema na Educação João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva). A Corrente do Bem Como iniciar grandes transformações a partir de pequenos passos Pensar na escola como sendo um lugar que pode gerar uma transformação tão grandiosa que ultrapasse os limites espaciais da vida de um estudante é algo que nos parece longe demais, no entanto, o filme a "Corrente do Bem" parte dessa premissa, parece querer nos dizer que o aquilo que nos parece aparentemente impossível pode estar ao nosso alcance. A história do filme tem um grande mérito em seu currículo, já foi capaz de promover o surgimento nos Estados Unidos de um movimento assemelhado ao que foi apresentado nas telas, portanto, como dizemos na gíria, "moveu montanhas". Vamos ao filme, trata-se da história de um garoto de 12 ou 13 anos, portanto um aluno de 7ª Série, com as aulas começando, em seu primeiro dia. Quando o garoto e seus colegas chegam a sala de aula, encontram o professor de geografia os aguardando, sentado em uma cadeira, a meditar sobre os pontos que pretende desenvolver nesse primeiro encontro com seus novos alunos. Quando todos estão sentados e instala-se um necessário silêncio, o professor inicia suas atividades apresentando-se e falando sobre os propósitos de seu curso e das dificuldades de se trabalhar com adolescentes; apesar de ter marcado o mapa na lousa em diversos pontos, o professor despreza o material e propõe uma atividade diferenciada, pergunta aos alunos sobre a possibilidade de desenvolvimento de um projeto, mas não um simples trabalho escolar, algo que vá além, que gere consequências, que provoque transformações. Apesar de inicialmente termos a idéia de que tal professor (vivido pelo oscarizado Kevin Spacey, premiado pelo seu trabalho no crítico "Beleza Americana") é conservador e que suas aulas devem corresponder a sua postura e atitude diante do grupo, esta proposta inicial nos coloca diante de uma nova perspectiva, mais bela, mais poética, mais revolucionária. Se ficamos interessados pela proposta, imaginem então, como reagiriam alunos de 12 ou 13 anos. Isso mesmo, a princípio, com grande indiferença, a não ser por um dos garotos, de nome Trevor, personificado pelo impressionante Haley Joel Osment (do surpreendente suspense "O Sexto Sentido" e do instigante "AI - Inteligência Artificial"), que cria a "Corrente do Bem". Essa corrente funciona como as pirâmides através das quais as pessoas tentam ganhar dinheiro ou livros, por exemplo, só que ao invés de utilizar essa artimanha para multiplicar os ganhos materiais, a proposta do garoto encaminha-se no sentido de fazer com que as pessoas pratiquem o bem para os outros, sem esperar qualquer devolução ou retorno. Cada pessoa teria que fazer o bem para 3 indivíduos e, pedir que os outros continuassem fazendo o mesmo, ou seja, praticando o bem para outras pessoas e pedindo que elas estendessem essa corrente indefinidamente. De 3 benfeitorias ou benefícios prestados passaríamos numa segunda etapa para 9, dos 9 para 27 e, assim sucessivamente. Perceberam como, uma simples idéia lançada numa sala de aula acabou por se tornar uma verdadeira revolução no pensar e no agir? Além de nos provocar para que, como professores procuremos fazer com que nossos pequenos esforços se tornem grandes em seus resultados gerais para nossos alunos e nossas comunidades, o filme traz ainda discussões importantes acerca do respeito pelas diferenças, das dificuldades de relacionamente familiar nos tempos em que vivemos e, mais especificamente, da dificuldade que temos em entender os mais jovens (parecemos não querer escutá-los, mesmo quando nos mostramos atentos; parecemos não nos importarmos com o que os jovens pensam, quando deveríamos participar nossas opiniões e saber escutar a deles; apesar de toda rebeldia, muitos deles querem e precisam muito de nosso apoio). O filme é muito interessante no sentido de despertar diálogos, de nos fazer entender pelos jovens e de nos fazer atentos a suas colocações, de nos fazer promover uma possibilidade de maior entendimento entre pais e filhos (fundamental para a educação!) e de aproximar as escolas daquilo que seja significativo para os estudantes, a comunidade e mesmo para nós, professores! Ficha Técnica A Corrente do Bem (Pay it Forward) País/Ano de produção:- EUA, 2000 Duração/Gênero:- 122 min., drama Disponível em vídeo e DVD Direção de Mimi Leder Roteiro de Mike Rich Elenco:- Kevin Spacey, Haley Joel Osment, Helen Hunt, Jon Bon Jovi, James Caviezel, Angie Dickinson, Shawn Pyfrom, Jay Mohr. Links http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1393 http://www.adorocinema.com/filmes/pay-it-forward/pay-it-forward.htm
A CORRENTE DO BEM

Aprender com as Diferenças

Aprender com as Diferenças
Maria Teresa Eglér Mantoan Doutora em Educação; Professora da Faculdade de Educação da UNICAMP – São Paulo; Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade LEPED/Unicamp.
Inclusão promove a justiça
O que é inclusão?


Para a educadora Maria Teresa Égler Mantoan, na escola inclusiva professores e alunos aprendem uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. Esse é o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa.

Uma das maiores defensoras da educação inclusiva no Brasil, Maria Teresa Mantoan é crítica convicta das chamadas escolas especiais. Ironicamente, ela iniciou sua carreira como professora de educação especial e, como muitos, não achava possível educar alunos com deficiência em uma turma regular. A educadora mudou de ideia em 1989, durante uma viagem a Portugal. Lá, viu pela primeira vez uma experiência em inclusão bem-sucedida. "Passei o dia com um grupo de crianças que tinha um enorme carinho por um colega sem braços nem pernas", conta. No fim da aula, a professora da turma perguntou se Maria Teresa preferia que os alunos cantassem ou dançassem para agradecer a visita. Ela escolheu a segunda opção. "Na hora percebi a mancada. Como aquele menino dançaria?" Para sua surpresa, um dos garotos pegou o colega no colo e os outros ajudaram a amarrá-lo ao seu corpo. "E ele, então, dançou para mim." Na volta ao Brasil, Maria Teresa que desde 1988 é professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas deixou de se concentrar nas deficiências para ser uma estudiosa das diferenças. Com seus alunos, fundou o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade. Para ela, uma sociedade justa e que dê oportunidade para todos, sem qualquer tipo de discriminação, começa na escola.

O que é inclusão? É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro.

Que benefícios a inclusão traz a alunos e professores? A escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho, para todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos. A inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade. Se isso não ocorrer, essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida cidadã pela metade. Você não pode ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, valorizando o que ele é e o que ele pode ser. Além disso, para nós, professores, o maior ganho está em garantir a todos o direito à educação.


Para saber mais, acesse o link do Revista Escola: http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/inclusao-no-brasil/maria-teresa-egler-mantoan-424431.shtml